Blog

Leptospirose

A leptospirose é uma doença infecciosa que acomete determinados animais vertebrados, especialmente os mamíferos, inclusive o ser humano. Portanto, trata-se de uma zoonose das mais frequentes. É causada pelas bactérias do gênero Leptospira, que têm como principais hospedeiros os roedores, com destaque para à espécie Rattus Norvegicus, popularmente conhecida como “rato de esgoto” ou ratazana. Os roedores apenas hospedam o patógeno e não desenvolvem a doença.

Embora sejam mamíferos, os gatos raramente apresentam a enfermidade. Já os cães estão sujeitos à leptospirose, que neles manifesta-se causando doença hepática e/ou renal aguda, com risco de evolução para septicemia (infecção generalizada decorrente da invasão da corrente sanguínea pelas bactérias). Nos casos crônicos de leptospirose canina é comum a ocorrência de sequelas como a doença renal crônica.

Como acontece o contágio?

A Leptospira penetra no organismo pelas mucosas ou através da pele lesionada. Os cães podem ser contaminados quando têm contato direto com outros animais já infectados, mas a forma de contágio mais frequente é a indireta, na qual o cachorro adquire a bactéria em um ambiente contaminado pela urina de um animal hospedeiro. A água e o alimento do cachorro são outras possíveis vias de contaminação, pois roedores podem urinar nos recipientes que os contêm, nas proximidades deles ou até mesmo em embalagens de ração armazenadas de forma inadequada.

A Leptospira não consegue se multiplicar fora do hospedeiro, mas é capaz de sobreviver em ambiente externo se encontrar condições favoráveis: clima tropical, altos índices pluviométricos e pH do solo variando de neutro a alcalino. A má notícia é que o nosso País oferece essas condições e, por isso, não surpreende que a leptospirose seja considerada uma doença endêmica no Brasil, tornando-se epidêmica em períodos chuvosos. Em locais onde há umidade, ou mesmo em água parada, o patógeno pode sobreviver por até 180 dias, sendo uma potencial fonte de infecção de animais e humanos saudáveis durante todo esse tempo.

Humanos adquirem leptospirose pelo contato da pele com água de alagamento contaminada com urina de animal hospedeiro da Leptospira. Por isso, a maioria dos casos de leptospirose acontece em períodos de chuva e em regiões com saneamento precário. Vale lembrar que a pele amolecida devido a um longo tempo na água e/ou a presença de lesões na pele facilitam a penetração da bactéria. Essa zoonose também pode ser contraída pela pessoa que leva mordida de animal infectado, que ingere alguma coisa contaminada pela urina do animal ou que manipula tecidos nos quais a bactéria está presente.

Sintomas

Os sinais clínicos da leptospirose variam de um cão para outro, então é importante saber que nem todos os sintomas descritos a seguir estarão necessariamente presentes. No início, o animal apresenta febre, falta de apetite, dor renal, vômito, hemorragias, petéquias (pequenos pontos vermelhos ou roxos na pele) e hematomas pelo corpo. Urina de cor amarronzada e icterícia (pele amarelada, olhos, gengivas e parte interna das orelhas com coloração branca ou amarelada) são sinais observados na maioria dos casos. Fígado, rins, baço, sistema nervoso central e olhos do animal podem ser seriamente comprometidos nessa fase. Se não há intervenção ainda no início, a leptospirose evolui, provocando insuficiência renal e/ou hepática. Em alguns casos podem ocorrem aborto, meningite e uveíte (inflamação intraocular).

Vale salientar que a leptospirose canina pode se apresentar de três formas diferentes, a depender das condições do cachorro afetado – capacidade imunológica, idade, existência de outros problemas de saúde – dos fatores ambientais e da virulência do sorovar – capacidade infecciosa do subtipo de Leptospira que infectou o animal. Conforme a conjunção de fatores, a leptospirose pode se manifestar de forma aguda, peraguda ou crônica.

Na forma aguda, observa-se febre, leucocitose (aumento da quantidade de glóbulos brancos) e albuminúria (presença de albumina na urina). A forma peraguda caracteriza-se por intensa leptospiremia (multiplicação rápida da Leptospira na corrente sanguínea do cão), choque séptico (queda brusca de pressão arterial decorrente da leptospiremia) e frequentemente leva à morte. Já a forma crônica da doença tem como sinais clínicos febre sem motivo aparente e conjuntivite, além de distúrbios hepáticos e renais, que o dono do animal não percebe quando ainda estão no início, mas que, se evoluírem sem tratamento, também podem ser fatais.

Diagnóstico

O médico veterinário suspeita da leptospirose canina a partir dos sinais clínicos apresentados pelo cão e busca confirmação através de exames laboratoriais que analisam a urina e o sangue do animal para verificar a presença de anticorpos contra Leptospira, além de exame de tecidos apropriados para identificar a presença da bactéria. Paralelamente, deve ser realizado o diagnóstico diferencial, a fim de verificar se não se trata de outra doença que provoca sintomas parecidos com os apresentados pelo animal, como hepatite viral canina, anemia hemolítica ou brucelose canina, dentre diversas outras enfermidades.

Tratamento

Após confirmado o diagnóstico da leptospirose canina, o tratamento deve ser iniciado com a maior brevidade possível. Deve ser intensivo nos quadros agudos, para que a evolução da doença seja freada. Quando já se apresenta insuficiência renal e/ou hepática, torna-se mais difícil tratar o paciente e as chances são ainda menores nos quadros em que ocorre choque séptico ou coagulação intravascular disseminada. O tratamento é feito com antibióticos que têm a função de inibir a multiplicação da bactéria, estabilizar o quadro e prevenir que as lesões no fígado e nos rins se agravem.

Prevenção

A medida de prevenção essencial contra a leptospirose canina é a vacinação. As vacinas polivalentes V8 e V10 protegem contra essa e outras doenças, e cabe ao médico veterinário indicar qual delas é a mais apropriada para o pet. Animais de pouca idade que não foram imunizados correm um risco ainda maior de desenvolver a doença em sua forma peraguda.

Além de vacinar o cão, outros cuidados podem ser tomados para afastar o risco de ele contrair a enfermidade:

– Acostume o cachorro a comer em determinados horários, para evitar deixar ração no prato por muito tempo, o que atrai roedores, que costumam urinar enquanto se alimentam e podem, assim, contaminar a ração e o ambiente.

– Não acumule lixo, principalmente restos de alimentos, para não atrair roedores.

– Feche aberturas que existam em paredes, telhado e rodapés, para impedir a eventual invasão de roedores.

– Cuide para que não haja ambientes úmidos em sua casa nem água parada (o que também é um risco por se tornar criadouro de mosquito de dengue).